Sérgio Buarque de Holanda
O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO EM SÉRGIO BUARQUE DE
HOLANDA
Por Jeniffer Modenuti
Sérgio
Buarque de Holanda nasceu em São Paulo a 11 de julho de 1902, filho de
Cristóvão Buarque de Holanda e de Heloísa Buarque de Holanda.
Jornalista,
sociólogo e historiador brasileiro, um dos maiores intelectuais brasileiros do
século XX, que tentou interpretar o Brasil, sua estrutura social
e política, a partir das raízes históricas nacionais. Antes de se tornar
historiador e escrever, foi jornalista e tornou-se amigo dos principais
representantes do Modernismo, como Mário de Andrade e Oswald de Andrade, e
passou a escrever em revistas ligadas ao movimento.
Além
disso, trabalhou em agências de notícias internacionais e diversos órgãos da
imprensa brasileira, como o “Jornal do Brasil” e a “Folha de S. Paulo”, durante
muitos anos da sua vida. Foi membro-fundador do Partido dos Trabalhadores,
em 1980.
Sérgio Buarque de Holanda morreu em São Paulo, a 24 de abril de 1982. Entre
suas obras mais famosas estão: "Raízes do Brasil" (1936), "Cobra
de Vidro" (1944), "Caminhos e Fronteiras" (1957) e "Visão
do Paraíso" (1959).
Para
saber mais:
http://almanaque.folha.uol.com.br/sergiobuarque.htm;
http://www.interpretesdobrasil.org/sitePage/69.av;
http://www.itaucultural.org.br/aplicex ternas/enciclopedia
A SOCIOLOGIA POLÍTICA
DE SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA
As discussões sobre democracia vem a
tomar diferentes rumos com as analises de Sérgio Buarque de Holanda
(1902-1982). Em contraste com a visão otimista tomada por Freyre, Holanda
compreende a democracia no Brasil como um mal-entendido (Rezende, 1996).
Em sua análise Holanda pensa a relação entre Estado e Sociedade,
fundamentalmente ao refletir as relações entre o público e o privado, ao passo
que ele busca desvencilhar de noções abstratas que mascarem a verdadeira face
da realidade brasileira.
Holanda investe seu pensamento na mentalidade
senhorial brasileira refletida na vida social e política, elemento este
singular estruturante da nossa sociedade. Ele destaca fundamentalmente o nosso
passado rural e patriarcal de poder ilimitado como uma das peculiaridades - a
vida privada que adentra ao sistema político, assim como a exclusão
política das classes dominadas sob uma pequena elite dominante.
Holanda critica a cordialidade
brasileira, que destrói o enfrentamento político, por dissolver grupos
políticos não hegemônicos que venham a se constituir. Esse processo é altamente
destrutivo. Ele destaca como problema a direção que o Estado toma, em
favorecer os interesses da parcela dominante, que manipula o Estado a favor de
interesses específicos. Logo é preciso formar canais de
comunicação/participação política entre quem governa e quem é governado,
como movimentos sociais, associações de bairros, sindicatos, por exemplo.
Ao analisar a democracia no Brasil
como um mal entendido Holanda expressa a falta de conexão entre política
pretensamente democrática e democracia. Assim Holanda aponta a falta de
bases econômicas, políticas, culturais e sociais que são necessárias ao
entendimento da democracia. A sociedade não permite a existência de canais de
comunicação e participação política. A democracia não estava presente em nossas
raízes, isso pois os interesses privados e dominantes prevaleciam sobre
os públicos (Rezende, 1996). Ao pensar os processos/procedimentos políticos e
democráticos Holanda observa que essa ausência, ou mesmo negação de
participação e comunicação está ligada com a arena política de disputa entre os
políticos, ignorando a população. Convém aos setores dirigentes e dominantes
dar vez e voz às demandas impostas pelos reais problemas do Brasil e do povo
brasileiro, e abandonar as práticas políticas patrimonialistas que só
defendam os interesses das classes dirigentes e economicamente dominantes.
Holanda propõe uma análise na qual vê
que a democracia deve ser pensada como cultura, enquanto internalização de valores
democráticos. Assim sendo é preciso que hajam procedimentos capazes de
fazer com que a população tenha o entendimento
desses valores democráticos: educar para cidadania, investir em
modernização e urbanização, dentre outros temas que os sociólogos das próximas
gerações irão debater.
O Homem Cordial: Sérgio Buarque de Holanda vê a cordialidade como uma característica presente na formação política brasileira. Este homem cordial é oriundo da cultura patriarcalista e patrimonialista das relações de domínio, pautada nas trocas de favores, na pessoalidade, na intimidade. Para Holanda a cordialidade se inscreve na dificuldade de enfrentarmos o conflito. A aversão ao conflito é a base da cordialidade, o que leva à violência, à resistência a transformação e mudança.
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Revendo os conceitos...
O
termo Patriarcalismo é oriundo de Patriarcado.
No patriarcalismo o patriarca e chefe da família personificava a lei e a
regra, e ao mesmo tempo tutelava a vida de seus agregados, funcionários,
escravos, e toda sua família. A forma de domínio se reproduzia na forma de
favor. Esta relação mais tarde seria levada para o controle eleitoral, uma
vez que a “lealdade” ao patriarca deveria ser expressa no apoio a seus
candidatos ou à sua própria candidatura. Votar contra era se mostrar
contrário a esta associação moral que era proposta pelo senhor de terras, o
patriarca.
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O
Patrimonialismo corresponde a um exercício legítimo de dominação
política, onde o caráter tradicional da dominação prevalece sobre a
racionalidade burocrática. Em nossa organização política brasileira este
termo é compreendido como uma prática social que não efetua a fundamental
diferença entre a esfera pública e a privada na vida política. A esfera
pública é tratada como uma extensão da vida privada dos dirigentes,
estabelecendo assim práticas corruptas, nepotistas, trocas de favores
abertamente aceitas.
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Referências:
HOLANDA, S.B. Raízes do Brasil.
Rio de Janeiro: J. Olympio. 1987.
LIEDKE FILHO, E. D.
A Sociologia no Brasil: história, teorias e desafios. Sociologias, Porto
Alegre, ano 7, nº 14, jul/dez 2005, p. 376-437.
REZENDE, M.J. Democracia em
Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda. Plural; Sociologia, USP, São
Paulo. 3: 14-48. 1 sem 1996.
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